Amnesia: Rebirth é o terceiro capítulo da série, mas que não traz vínculos significativos com os episódios passados. Trata-se, portanto, de uma história independente e uma perfeita porta de entrada para aqueles interessados em conhecer a franquia. A premissa lembra alguns aspectos básicos de The Dark Descent que é o primeiro capítulo da série. Um elemento que está de volta é o uso de itens e fósforos para iluminar ambientes, facilitando a visibilidade e criando rotas seguras. Do ponto de vista narrativo, outro aspecto tradicional é a amnesia da protagonista, estabelecendo uma forma peculiar de se revelar pontos cruciais da história.

O novo capítulo da série traz como personagem principal Tasi Trianon, uma mulher francesa, vítima de um acidente aéreo misterioso, posteriormente aterrisando no deserto da Argélia. Ao acordar do acidente, ela se depara com o avião vazio e rastros que indicam que os demais passageiros escaparam do local. Tasi, então com pequenos fragmentos de memória e seu caderno de rascunhos, passa a buscar respostas para o que aconteceu. Ao vagar pelo deserto, ela inicialmente descobre cavernas em que os passageiros do vôo usaram como refúgio temporário. Com o primeiro contato com os recados e pertences de seus conhecidos, ela percebe que já esteve no local anteriormente e busca compreender porque voltou ao avião. A partir desse ponto, o jogo toma novos rumos e os elementos começam a ser introduzidos. Eventualmente, aparecem as primeiras criaturas, que elevam o desafio do jogo e forçam o usuário do jogo a avançar com cautela.

Amnesia: Rebirth consiste de uma experiência de exploração, resolução de quebra-cabeças e sobrevivência aos terrores de seu universo. Todavia, nenhum destes são muito aprofundados. O gameplay é raso e simplório, especialmente nas situações em que Tasi se depara com os monstros do jogo. Assim como nos demais games da série e seguindo a tendência de outros produtos de terror sem qualquer opção de combate, em Rebirth o único artifício do jogador para lidar com os inimigos é se esconder ou fugir. É um sistema válido para 2010, quando Dark Descent foi lançado. Para os dias atuais, sem apresentar qualquer elemento de jogabilidade inédito, não é algo muito entusiasmante.


Embora existam opções que reduzam efeitos visuais exagerados e que permita o jogador customizar a intensidade da câmera, a perspectiva em primeira pessoa, com limitado campo de visão e muitos efeitos de trepidação, podem deixar a experiência extremamente nauseante em ambientes escuros. Deste modo, quando o jogo exige respostas rápidas e intensa movimentação, é fácil perceber as limitações. Todavia, muitos dos segmentos de quebra-cabeças são muito interessantes, especialmente aqueles que envolvem a interatividade com a física de objetos espalhados pelo cenário. Em suma, a jogabilidade do jogo foi melhor desenvolvido para os momentos menos eufóricos, devendo bastante nas partes em que envolve confrontos ou fuga.

Pelo menos a frustração decorrente da falha é amenizada por checkpoints generosos. Ainda que se trate de um jogo de terror e, de certa forma, de sobrevivência, este episódio de Amnesia facilita a vida do jogador nos momentos de confronto. O mesmo não pode ser dito da resolução dos quebra-cabeças, quais exigem muito do poder de observação do jogador, especialmente para aqueles enigmas que lidam com a física de objetos. O jogo oferece poucas pistas para desvendar tais segredos. A respeito da física dos itens, mencionado anteriormente, é um aspecto que merece reconhecimento. A maior parte dos objetos de Rebirth podem ser manipulados e carregam características distintas, de peso e propriedade do material. Além dos clássicos fósforos, o jogo esconde muitos outros itens atrás de tais objetos espalhados pelo cenário, portanto, é imprescindível que o jogador procure nas bagunças espalhadas pelos ambientes do jogo.

Assim como nos demais games da desenvolvedora, o departamento sonoro não decepciona. Os efeitos sonoros são bons e variados com destaque para a reprodução correta dos sons de diferentes propriedades. Já as dublagens das personagens impressionam, pois são extremamente profissionais e colaboram para intensificar a imersão na narrativa.

As ricas ambientações impulsionam o potencial narrativo, especialmente por apresentar universos paralelos e estranhos ao imaginário humano, e flertando entre a claustrofobia e agorafobia, com seus curtos e apertados corredores e longos espaços abertos. A jornada de Tasi também é complementada por muitos flashbacks e documentos textuais que preenchem o rico lore do jogo. Vale destacar que o jogo conta com total suporte textual e legendas em português do Brasil, facilitando o acompanhamento da história. Por fim, vale mencionar que o jogo proporciona uma campanha extensa, com diversos capítulos e situações diferentes. Ao terminar, não existem muitos incentivos para retornar ao jogo, exceto para buscar arquivos e itens escondidos, a fim de se obter maior conhecimento da história.


Ainda assim, por conta da grandiosidade de seus cenários, personagens e acontecimentos, contendo sequências de pavor absoluto. Não estão atreladas a jornada como um todo, infelizmente, mas sim àquela tumba milenar construída de morte, se configurando diante de nossos olhos adaptados a escuridão.

O novo capítulo da série Amnesia conta uma intrigante e bem elaborada história de terror. O jogo herda muitas das características introduzidas em The Dark Descent, mas não entrega uma evolução notável no gameplay. Embora a jogabilidade seja um pouco arcaica, a experiência é recomendada por sua narrativa profunda e imersiva.

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