Imagine que você trabalha em um emprego comum, das 8h às 18h, pega um ônibus lotado de volta para casa, cansado e já pensando na rotina do dia seguinte. Você chega, toma um banho rápido, liga o computador, abre a Steam e encara aquela lista de jogos acumulados em promoções que você comprou por impulso, mas nunca jogou. Você pensa em começar algum deles, mas a empolgação simplesmente não vem. Fecha tudo e decide ir até o bar da esquina, tomar uma cerveja e refletir sobre os tempos em que jogar videogame era mágico, quando cada partida era uma aventura inesquecível. Mas aí você diz a si mesmo: "O problema não é o jogo, sou eu. Eu cresci. Os jogos ainda são bons... sou eu que mudei."

E então eu começo The Witcher 3: Wild Hunt. E, de repente, sinto algo que não sentia há anos: a ansiedade de terminar o expediente para voltar correndo para casa e continuar a aventura. Você tem ideia do quão raro é esse sentimento? De como é precioso sentir-se tão conectado a um mundo virtual que parece mais real do que a rotina lá fora? Eu me vi, pela primeira vez em muito tempo, imerso na pele de um protagonista, vivendo suas dores, decisões e dilemas como se fossem meus. Dirigindo de volta para casa, eu pensava: "Para onde essa história vai me levar agora? Que novos rostos e lugares eu vou encontrar?" E não consigo deixar de sorrir ao lembrar como os personagens deste jogo conseguiram me fazer rir, chorar e torcer por eles de verdade. Eu achava que estava emocionalmente anestesiado, mas The Witcher 3 provou o contrário. Me fez sentir vivo. Me fez sentir tudo de novo.

Eu não sinto isso desde os tempos de GTA San Andreas e God Of War 2, quando os jogos pareciam ter alma. Por um momento, eu achei que tinha perdido essa conexão. Achei que o problema fosse meu. Mas não era. A indústria de jogos mudou. Hoje, ela lança um AAA atrás do outro, todos bonitos por fora, mas vazios por dentro. Personagens esquecíveis. Histórias sem coração. The Witcher 3 é a prova de que ainda existe grandeza no mundo dos games.
E o mais inacreditável? Eu comprei este jogo por R$ 35 em uma promoção. R$ 35! E isso ainda inclui os DLCs, que poderiam ser jogos inteiros de tão bem feitos que são. Eu honestamente sinto que roubei os desenvolvedores. Já paguei mais que o dobro por jogos que não chegam nem perto de valer a pena. Com 40 horas de jogo, eu sinto que só arranhei a superfície dessa história épica. As missões secundárias são tão boas que eu nem me preocupo em correr para terminar a trama principal. Cada missão parece um episódio de uma série digna de HBO, com diálogos profundos, escolhas difíceis e personagens que ficam na memória.

E o mundo aberto? Eu nunca vi nada parecido. Desde GTA V, eu não sentia vontade de simplesmente andar, sem pressa, explorando cada canto do mapa. Em The Witcher 3, eu olho para uma montanha distante ou uma ilha misteriosa e penso: "O que será que tem lá?". E eu vou. Simplesmente vou. Não porque o jogo me obriga, mas porque ele desperta a curiosidade e a paixão pela exploração. Esse é o padrão ouro de como um mundo aberto deve ser feito.

CD Projekt Red, vocês não criaram apenas um jogo. Vocês criaram uma obra-prima. Uma experiência que transcende o tempo e a tecnologia. Sei que cheguei tarde para esta festa, é a minha 2 jogatina depois de anos, e talvez tenha demorado mais do que deveria para dar essa chance a The Witcher 3, mas, como dizem, antes tarde do que nunca. Obrigado por me lembrarem do que significa jogar um videogame de verdade. Obrigado por reacenderem em mim o amor por este mundo que eu achei que tinha perdido. Obrigado por Geralt, Yennefer, Triss e todos os outros personagens.

Se você, como eu, já sentiu que perdeu a magia dos games, faça a si mesmo um favor: jogue The Witcher 3. Você merece essa experiência. E eu prometo, ao final dessa jornada, você nunca mais será o mesmo. :Geralt::yennefer: